Laudato Si: Iniciativa e Compromisso de cuidado de si, do cuidado da Casa Comum.

Irmã Maria Auxiliadora dos Anjos, OP.

Dia a dia nos deparamos com a afirmativa/constatação de que a humanidade se encontra numa situação de crise e de emergência planetária. Esta realidade vem nos mostrando, com insistência, que é cada vez mais urgente o cuidado para com o nosso planeta, com a extensão de nós mesmos e, nos passos do Papa Francisco, o cuidado para com a nossa Casa Comum. É assim que em sua encíclica Laudato Si’, o Papa Francisco afirma:

É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza. (Laudato Si’, 2015, parágrafo 139)

Esta é a principal mensagem, em forme de um forte clamor: cuidar da Casa Comum. E se este clamor tem chegado até nós, significa que, de fato, nossa Casa Comum está sendo ameaçada.

Esta exortação, nos convoca a uma conversão interior, que nos impulsione a ter coragem de conhecer e reconhecer a realidade, nos colocando em conexão com a terra ou a natureza, pois “tudo está conectado”, e assim, somos partes de um mesmo todo: terra, natureza, ser humano. E é com um espírito crítico e construtivo que, como cristãos, temos o grande desafio de assumir o compromisso de trabalharmos para encontrar soluções sustentáveis no cuidado desta Casa Comum.

Como, enquanto missionadas dominicanas, promover uma séria reflexão e tomada de medidas concretas em nossas comunidades, que efetivem esse compromisso?

Resgato aqui, uma pequena iniciativa da Comunidade Terapêutica Colônia Bom Samaritano, uma entidade filantrópica, em João Monlevade, que atende aproximadamente 160 jovens e adultos, homens e mulheres por ano, portadores de dependência de alcoolismo e toxicomania, em regime de internato, por um período de 09 (nove) meses através de terapias ocupacionais e disciplina, tendo por finalidade sua recuperação e reintegração social na família, na sociedade e no mercado de trabalho e, também, de apoio às suas famílias com palestras de orientações e cursos.

Uma iniciativa simples e, talvez, pequenina, mas, que serve de reconhecimento e estímulo para o compromisso do cuidado de si, do cuidado da Casa Comum.

Diariamente a Comunidade Terapêutica recolhe alimentos (frutas e legumes) que são descartados pelo comércio, para a alimentação da sua criação de suínos. Todavia, o que se constatou é que as frutas e legumes recolhidos, na sua maioria, estão ainda em bom estado para consumo. No caso, separam-se as frutas e legumes em bom estado para consumo, e o restante vai para alimentar a criação.

Muitas vezes há um excesso de alimentos bons, porém, não era possível aproveitá-los todos, por falta de conhecimento técnico para a preparação dos mesmos. As acolhidas tinham boa vontade, mas, faltava-lhes orientação/formação nesta área.

A partir daí, a Comunidade começou um projeto unindo o útil ao agradável: aproveitar os alimentos para a criação e, de forma mais eficaz para alimentação dos próprios acolhidos e acolhidas, proporcionando às acolhidas uma formação técnica do manuseio e preparo destes alimentos, de forma nutricional e um pouco mais requintada, de modo a proporcionar a elas qualificação e, colaborar com o combate ao desperdício.

O Projeto se concretizou e, o que se percebe é que a consciência vai se despertando, a ponto mesmo de questionarmos nossas atitudes diante da triste contradição em que vivemos: enquanto mais de 800 milhões de pessoas no mundo passam fome, 1/3 dos alimentos produzidos no mundo são desperdiçados.

O resultado é que, além desta pequena iniciativa ter possibilitado as Acolhidas mais opções de laborterapia, de reaproveitamento de alimentos que foram descartados, capacitá-las para o desenvolvimento de atividades profissionalizantes, podendo ser uma fonte de renda e sustentabilidade, evitando o desperdício, acaba contribuindo, também, para a inclusão da dependente no meio em que vive, aprimorando suas habilidades e, sensibilizando as pessoas que podemos evitar o desperdício de alimentos que podem chegar à mesa daqueles que passam fome.

Que este relato possa servir de registro dinâmico e interativo como reconhecimento, estímulo e compromisso em vista do “reinado de Deus”, anunciado e vivido por Jesus Cristo, onde todos os seres humanos possam “bem viver” nesta Casa Comum, com respeito, dignidade e num clima de fraternidade.

1 1 Irmã Maria Auxiliadora dos Anjos é membro da Comunidade Dominicana da CRSD em São Domingos do Prata. Atualmente, ela faz parte da diretoria da Comunidade Terapêutica Bom Samaritano, atuando como colaboradora voluntária nos projetos e ações desenvolvidos para o atendimento e acolhida de jovens e adultos, portadores de dependência de alcoolismo e toxicomania, em João Monlevade/MG.

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