Conta-nos uma parábola que em certo Mosteiro havia um monge que dedicava a sua vida à meditação. Quando já estava em uma idade bem avançada sentiu saudade de Deus, pois de tanto meditar achava que já estava pronto para entrar no céu. Certo dia ele foi bater na porta do céu. Bateu uma vez, esperou e a porta não se abriu.

Então ele pensou: passei tantos anos em oração, devo passar um ano em missão. Foi para a missão, gostou bastante e ao término de um ano voltou e foi bater na porta do céu novamente. Bateu uma vez, esperou e a porta não se abriu. Desorientado, pensou: faltou solidariedade! Devo passar um ano prestando socorros em um hospital. Assim, procurou um hospital e ajudou principalmente àquelas pessoas menos protegidas, sem acompanhamento. Gostou do que fez, mas a saudade de Deus era grande e, ao final de um ano em solidariedade, foi bater novamente na porta do céu.

Bateu uma vez, duas vezes e nada. Ninguém abriu a porta do céu. Desesperado, ficou acordado e chorando! Seu espírito o levou em visão para uma praia, onde encontrou crianças brincando, Disse, então, para si mesmo: aqui não é meu lugar; eu não sou criança, nunca trabalhei com crianças e nem tive uma infância feliz! Mas as crianças vieram ao seu encontro e lhe convidaram para ajudá-las a construir castelos na areia. Ele começou a brincar com as crianças e construíram muitos castelos. O mais divertido era quando a maré derrubava os castelos. Todo o grupo caía na gargalhada. Enquanto sorriam, as crianças cobriam o monge de beijos, faziam cócegas. O monge se encantava, nunca havia vivido uma sensação tão maravilhosa. Quando orava, sentia-se na presença de Deus. Mas ali, com as crianças, Deus se fazia presença em espírito e em matéria. Ele podia tocar e ser tocado por Deus através daquelas crianças.

No final da tarde, o monge pode extasiar-se com o pôr-do-sol. Percebeu que a oração contemplativa leva a sentir saudade de Deus, mas o céu que ele procurava se fez presente no contato com as pessoas, na alegria, na diversão, no toque das crianças e no extasiar-se diante do vazio da natureza. E nessa hora ele ouviu o ranger de uma porta...!

Natal é tempo de esperançar e contemplar o amor de Deus, manifestado na encarnação de Jesus. A Palavra se fez pessoa e veio habitar no meio de nós. Celebrar o nascimento de Jesus é, em primeiro lugar, contemplar o amor de Deus que nunca abandonou a humanidade à sua sorte; por isso, rompeu as distâncias, encontrou forma de dialogar com os homens e mulheres, através de todos os povos, e enviou-nos o próprio Filho a fim de nos oferecer a vida em plenitude e nos elevar à dignidade de “filhos de Deus”. As palavras que essa “Criança” trouxe aos homens são exigentes, fortes e inoportunas: paz na terra, amor aos inimigos, perdão para todos; a salvação chegou para nós.

Que neste Natal e Ano Novo possamos viver e mergulhar na vida e a perceber aquilo que nos aproxima de Deus, as atitudes mais humanas e mais simples.

Que aprendamos a buscar não só o além, mas o aquém. Possamos levar a vida a sério, tendo momentos de mistérios... Brincar, construir castelos de areia, sorrir de nossas desconstruções e nos extasiar com o belo para que muitas portas se abram para nós. Que neste Natal aprendamos também o exemplo de Nelson Mandela! Saibamos viver um espírito de liderança capaz de transmitir a paz para as gerações presentes e futuras.

Com este espírito natalino celebremos a Boa Notícia de nossa fé. Nossos votos de Feliz Natal e abençoado Ano Novo! Aquele que nos amou por primeiro nos convida a aproximar-se na simplicidade de seu mistério de amor para contemplar, renovar e construir caminhos nos horizontes do mundo.

Que o Nascimento de Jesus Menino renove as forças e esperanças em nossos corações, em todos os nossos caminhos. Haja paz, alegria, força, esperança e muito amor no coração de tod@s nós.

Feliz Natal e abençoado Ano Novo!

Irmãs Dominicanas da CRSD - Vicariato do Brasil